sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

NOSSO ARTIGO ESCRITO COM O PROF. JOSÉ LUIS VIANNA DA CRUZ, PUBLICADO EM SETEMBRO DE 2014 NO BOLETIM PETRÓLEO, ROYALTIES E REGIÃO DA UCAM


Assimetrias e desigualdades nos impactos do Complexo Petrolífero do Norte Fluminense: os casos de Campos dos Goytacazes e Macaé.

José Luis Vianna da Cruz
José Alves de Azevedo Neto
                                                                                           
Resumo: O presente artigo compara os impactos economia regional do petróleo do Norte Fluminense-NF, em termos do PIB, do emprego formal, e da qualidade desses empregos, medida pelo salário médio mensal, em salários mínimos, nos municípios de Campos dos Goytacazes e Macaé. Ambos pertencem à Bacia Petrolífera de Campos, e estão entre os municípios privilegiados com a maior parte das rendas da exploração e produção. Campos foi o polo tradicional da região e é o município que recebe o maior volume das rendas petrolíferas. Macaé sedia a base operacional do Complexo Exploração e Produção de petróleo e gás-E&P, da Bacia. Em virtude disso, Macaé recebeu a quase totalidade das empresas envolvidas nessa atividade, constituindo uma estrutura empresarial moderna, e concentra o emprego nesse segmento, enquanto Campos participa com um percentual importante do contingente dos trabalhadores do Complexo e com um importante aparato de educação, com destaque para o ensino técnico-profissional e superior, permanecendo como o centro regional de comércio e serviços, embora em bases predominantemente tradicionais. Dessa forma os impactos da economia regional do petróleo são diferenciados nos dois municípios. Devido à sua importância na Bacia, este artigo compara alguns indicadores dessas assimetrias.

Palavras-chaves: Impactos daeconomia do petróleo; Norte Fluminense; Campos dos Goytacazes; Macaé

Abstract: This Article compares impacts promoted by Rio de Janeiro Northern Region oil economy, regarding GIP, formal employment and its quality in the basis of average monthly income, measured in quantity of minimum salary, in Campos dos Goytacazes e Macaé. Both belong to Campos Oil Basin, and figure amongst the most privileged counties benefited with oil rents from exploitation and production E&P. Campos had always been the NF regional pole and is the one who receives the highest amount of rent. Macaé embeds the operational basis of the Oil E&P Complex. Therefore, Macaé hosts most of the firms involved in such activity, embodying a modern entrepreneurial structure, and concentrates employment in the segment, while Campos participates with a high percentage of such workers and holds a big an rich educational apparatus, whose highlights are its unities of technical-professional and college education, sustaining its outstanding position as a commercial and service center, even though on traditional standards. In this way, regional oil economy impacts are different in each of these two counties. Due to their outstanding position in the oil basin, this article compares some signs of such asymmetries.
 Keywords: Oil economy impacts; Rio de Janeiro’s Northern Region-NF; Campos dos Goytacaes; Macaé.


I – Introdução

Campos dos Goytacazes e Macaé, seu vizinho ao sul, são os dois municípios mais importantes do Complexo Regional de E&P-Exploração e Produção de petróleo e gás da Bacia de Campos, no norte do Estado do Rio de Janeiro-ERJ. Campos foi, durante quase trezentos anos, o polo econômico da região Norte Fluminense-NF, pela concentração da agroindústria de produção de cana, açúcar e álcool, até o seu declínio, a partir da década de 1970, e quase desaparecimento, na década de 1990. O município monopolizou, no período, os recursos territoriais, financeiros, econômicos e institucionais regionais (Cruz, 2003). A partir da segunda metade da década de 1970, com o início da exploração e produção de Petróleo na Bacia de Campos, o município de Macaé, limítrofe a Campos, passa a concentrar as instalações físicas do Complexo.

A partir de então ocorrem profundas mudanças na configuração do território regional, com a crescente centralidade de Macaé, polarizando o mercado de trabalho e as instalações dos equipamentos e empresas vinculadas às atividades de exploração e produção da Bacia de Campos.

O que se observa é que as formas distintas de integração no Complexo regional de E&P impõem ritmos e dimensões bastante diferenciados no crescimento do PIB e no volume e qualidade do emprego nos dois municípios, o que reforça a constatação de que os impactos do Complexo ocorrem de forma desigual, reproduzindo um padrão concentrado e excludente do desenvolvimento territorial regional.

As dimensões populacionais e territoriais dos dois municípios são bastante díspares, desaconselhando, num primeiro momento, análises comparativas. No entanto, o que se quer apresentar, neste trabalho, através de um conjunto de dados, são indicações da grande assimetria entre os impactos das atividades de E&P de petróleo sobre os dois municípios, com a consequente diferenciação produzida nos impactos socioeconômicos. A análise dos dados leva em conta as suas especificidades, quais sejam, a condição de sede das atividades produtivas e beneficiário de elevadas rendas, caso de Macaé; e de receptor de elevadas rendas, sem significativos investimentos produtivos, como é o caso de Campos, apesar deste sediar poucas empresas prestadoras de serviços ao Complexo.

Em 1970 a população de Macaé correspondia a pouco mais de 1/5 da de Campos, com 76 mil habitantes, enquanto a de Campos era de 348 mil habitantes, aproximadamente (IBGE). Hoje, mesmo após ter perdido cerca de 20 mil habitantes, com a emancipação de dois distritos, na década de 1990, sua população, de aproximadamente 206 mil habitantes, corresponde a quase metade da de Campos, que conta com 406 mil habitantes, aproximadamente (IBGE, Censo 2010). Seu território totaliza 1 mil e 200 km², hoje, ou seja, menos de 1/3 do de Campos, com 4 mil km². O orçamento de Campos é aproximadamente o triplo do de Macaé, assim como o volume das rendas petrolíferas repassados mensalmente, após a Lei do Petróleo, de 1997.


II. Crescimento econômico em Campos e Macaé

                        O fim do monopólio estatal na exploração e produção do petróleo e gás, a partir de 1998, trouxe também uma elevação substancial das rendas petrolíferas repassadas aos cofres dos municípios contemplados, assim como uma excessiva concentração em um número reduzido deles. No Norte Fluminense esses privilegiados são cinco: Campos, Macaé, São João da Barra, Quissamã e Carapebus, esses últimos emancipados de distritos de Macaé, na década de 1990.
Tabela 1. Royalties + Participações Especiais

Município
2011
2012
2013
Total
Campos
1.188.468.541,57
1.346.355.621,56
1.330.480.294,96
3.865.304.458,09

Macaé
482.751.937,13
543.718.234,23
517.249.964,53
1.543.720.135,89

Fonte: : STN, in: RIBEIRO, 2014

                               Como se pode observar, nos três últimos anos, o total de rendas recebidas por Campos é quase o triplo do de Macaé.

Esses valores aparecem no PIB no setor industrial que, no caso dos dois municípios aqui analisados, corresponde quase totalmente ao segmento extrativista do petróleo e gás. No caso de Campos os números refletem o grande peso do valor das rendas repassadas. Já no caso de Macaé, além das rendas, inclui as atividades produtivas das empresas de E&P e de fornecimento de bens e serviços ao segmento de exploração e produção. A seguir, os quadros I e II apresentam a composição do PIB, sem desagregação dos segmentos setoriais.

Tabela 2. PIB, Valor Adicionado, a preços correntes, 2011 (1.000 R$)
Segmentos
Campos
Macaé
Valor adicionado bruto da agropecuária
119.870
40.040
Valor adicionado bruto da indústria
28.631.330
5.229.343
Valor Adicionado bruto dos serviços
7.613.534
5.889.893
Imposto sobre produtos líquidos
841.058
1.389.010
PIB a preços correntes
37.205.791
12.558.285
Fonte: IBGE, in: RIBEIRO, 2014

O PIB de Campos é quase o triplo do de Macaé. Em Campos, o segmento industrial, inflado com os valores das rendas petrolíferas, responde por 76,95% do PIB. Esses valores, quase 6 vezes superiores ao de Macaé, são devidos às rendas do segmento extrativista, e não à produção, ao contrário de Macaé, cuja atividade petrolífera aparece com destaque no segmento de serviços, composto pelas empresas que atendem ao Complexo. Campos são contabilizados, ainda, os valores da produção sucroalcooleira ainda existente.

O setor de serviços, em Macaé, cujo peso no valor adicionado, 46,9%, é superior ao industrial, com 41,6%, é composto, majoritariamente, pelas empresas de serviços de alta tecnologia, prestados diretamente às atividades de exploração e produção de petróleo e gás, além de hospedagem e alimentação; e serviços de armazenagem, manutenção e distribuição. Com isso, o peso da arrecadação própria, proveniente de atividades econômicas, é superior ao de Campos; os impostos sobre produtos líquidos, em Macaé, são, em valores absolutos, mais de 50% superiores aos de Campos.

Portanto, nesse recorte, as duas composições de PIB são bastante diferenciadas, refletindo a integração desigual dos dois municípios na economia regional do petróleo.

No que tange ao setor agropecuário em Campos, 0,32% do PIB, o dado demonstra a perda de fôlego do setor ao longo dos anos. Embora o município preserve, em parte, sua tradição agroindustrial, percebe-se, por sua vez, a anemia relativa na geração de riqueza, o que demonstra que tal segmento perdeu força econômica, com o fechamento de várias usinas de açúcar e álcool, a partir dos anos 1990, principalmente.

A dinâmica econômica de Campos ancora-se, hoje, em grande parte, nos repasses das rendas oriundas da atividade de petróleo, cujos aportes no orçamento da prefeitura, mensais, no caso dos royalties, e trimestrais, no das participações especiais, atingiram no exercício fiscal de 2013 o valor realizado de 1,3 bilhão de reais, ou 58,55% da receita corrente orçamentária, reflexos dos privilégios decorrentes da Lei 9.478/97.  Já Macaé recebeu, no mesmo período o quantitativo de 517,24 milhões de reais, ou 26.45% da receita corrente orçamentária, (RIBEIRO, 2014, p: 140;150). Neste ano, Campos recebeu 150,35%, mais rendas petrolíferas, do que Macaé. 

Em 2001, o PIB, a preços correntes, de Campos dos Goytacazes, era de 6 bilhões; após uma década de recebimento das generosas rendas petrolíferas atinge o valor nominal de 37,2 bilhões em 2011, um salto de mais de 500%, enquanto em Macaé, passa de 2,4 bilhões a 12,6 bilhões, crescendo 425%, (Ribeiro,2014, p:24; 31). 

O setor terciário, ou de serviços, cresce, hoje, em Campos, na esteira das rendas e, ao que tudo indica, da expectativa dos investimentos deflagrada com a implantação, a partir de 2007, do CLIPA-Complexo Logístico e Industrial do Porto do Açu, em S. João da Barra, na divisa norte de Campos dos Goytacazes. As evidências se manifestam, em Campos, no aporte de capitais de grandes redes hoteleiras de bandeiras nacional e internacional, das grandes redes nacionais e internacionais de atacado e varejo e no aquecimento da construção civil, com a construção de condomínios de luxo e populares, um shopping da maior rede nacional e a presença de grifes de alimentação.

Embora o CLIPA não tenha se confirmado na dimensão que se desenhou no projeto original, em breve iniciará as atividades de exportação de minério de ferro e de apoio às atividades do Complexo de E&P, com a instalação de empresas fornecedoras.

A jornalista Denise Luna, correspondente no Rio de Janeiro do Jornal Folha de São Paulo (Caderno Mercado B1, 26/02/2012), informava, então, a respeito de um dos empreendimentos agregados ao projeto original do CLIPA

“O projeto do Porto do Açu estabelece a construção pela Rex, imobiliária de Eike Batista, de um bairro inteiro, com cerca de 40 mil habitações. O investimento total é estimado em US$ 40 bilhões até 2025, com geração de até 50 mil empregos. Inicialmente anunciado como uma nova cidade – a Cidade X -, o empreendimento projetado pelo urbanista Jaime Lerner foi transformado em um bairro. Condomínios luxuosos vão dividir o Bairro X com prédios mais populares, propiciando espaço para executivos e trabalhadores do complexo industrial. O projeto prevê a construção de canais que interligarão duas lagoas da cidade e o rio Paraíba do Sul ao transporte viário. Os canais são descritos como uma espécie de “Veneza Brasileira” a ser implantada no norte fluminense.”

Em 12/03/2013 o escritório de arquitetura de Jaime Lerner apresentou, em audiência pública, no município de S. João da Barra, o ambicioso projeto que, caso fosse concretizado, impactaria radicalmente toda a região norte fluminense, uma vez que incluía uma logística de transporte hidroviário que acessaria o Porto do Açu.

Dentro desta configuração econômica emergente, surge a possiblidade da cidade de Campos aumentar sua importância como o grande polo de comércio e serviços da região. O município possui a maior rede de ensino superior e técnico-profissional do NF.  

Todavia, pesquisadores, como Serra (2004:174), manifestam preocupação quanto ao desenvolvimento econômico de Campos, desde os primeiros anos das elevadas rendas que abarrotam os cofres dos municípios produtores, que criaram uma organização denominada de OMPETRO, para atuar como lobby

“Mas essa posição saudável das finanças públicas dos municípios pertencentes a OMPETRO é marcada por severas inconstâncias e ameaças.
Em primeiro lugar, deve-se destacar que a saúde financeira dos municípios da OMPETRO é determinada por forças completamente exógenas ao poder público local. O volume de produção de petróleo, a cotação desta commodity no mercado internacional e a flutuação do câmbio são variáveis-chave para definir as magnitudes dos depósitos de royalties no caixa dos municípios beneficiários. Fatores, por certo, completamente alheios ao poder público e à economia local. O resultado desta alienação entre o volume das receitas e a dinâmica local conforma uma situação de orçamentos municipais plenamente erráticos, que podem experimentar crescimentos fabulosos ou decréscimos drásticos em função de fenômenos completamente insensíveis à ação local.
O segundo ponto que merece destaque é, para além da irreversível finitude das receitas, a possibilidade das finanças municipais minguarem em função de mudanças nas normas que regem a distribuição dos royalties municipais acabarem antes mesmo do petróleo. Essa é uma possibilidade real e crescente, patrocinadas por grupos de interesses inconformados com o jorro dos royalties em uma região geograficamente beneficiada pela natureza.”

            Tais preocupações se tornam evidentes quando se observa as taxas de crescimento anual do PIB real, entre 2001 e 2011, em Campos e Macaé. Os índices são elevados, tanto os positivos quanto os negativos, ilustrando a trajetória errática do fluxo das rendas petrolíferas, como alerta Serra, conforme aparecem nos quadros 3 e 4, e nos gráficos I e II.

Tabela 3. Campos. PIB real. Crescimento 2001-2011 (%) (deflacionado pelo IGP-M)
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
-2,93
5,8
11,8
1,92
50,02
33,2
-17,7
27,85
-31,17
18,24
37,21
Fonte: IBGE, in: RIBEIRO, 2014


Tabela 4. Macaé. PIB real. Crescimento 2001-2011 (%) (deflacionado pelo IGP-M)

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
14,14
6,4
12,1
7,2
11,4
18,1
-9,4
83,6
-42,5
41,17
7,1
Fonte: IBGE, in: RIBEIRO, 2014

                     
Quando se analisa a evolução percentual do PIB real constata-se acentuadas variações de queda e de crescimento. Ainda assim, as taxas impressionam, revelando a magnitude do impacto sobre as finanças municipais.

Em 2009 a retração ocorrida no PIB real dos dois municípios deve ser atribuída à crise econômica mundial, que produziu o encolhimento temporário do comércio internacional ... “Verifica-se a ocorrência e crescimento real do PIB nos anos de 2002 a 2006, no ano de 2008 e nos anos de 2010 e de 2011. A queda em 2009, conforme já relatado, é resultado na crise financeira internacional...” (Ribeiro (2014:24).

O comportamento do PIB é semelhante em ambos os municípios. O PIB real é crescente, com elevação maior, acima da média dos anos anteriores, em 2008. Em Macaé ocorre, em 2009, uma grande queda, a curva sofre uma forte inclinação para baixo em função da crise financeira global de 2009, chegando a - 42,5%, deixando patente a vulnerabilidade inerente ao perfil de uma economia dependente de um único segmento. No entanto, como já foi observado, a presença de instalações físicas de centenas de empresas fornecedoras de bens e serviços ao setor extrativista empresta um maior grau de segurança à economia macaense, em relação à natureza quase exclusivamente rentista da dinâmica campista.

Do ponto de vista da economia petrolífera Campos encontra-se mais vulnerável do que Macaé, numa conjuntura de dependência dos humores da economia mundial, pois caracteriza-se como município tipicamente petrorentista (Serra,2007), isto é, município cujo orçamento e economia dependem em elevado grau de rendas monetárias, flutuantes e vulneráveis, de commodities primárias produzidas fora do seu território, em contraste com rendas de arrecadação tributária originadas de atividades produtivas nele localizadas, ainda que extrativas e vinculadas às oscilações internacionais, como é o caso de Macaé. Registra-se, de acordo com o cenário acima, que a economia regional desenvolve-se através dos grandes projetos de investimentos exógenos, com vulnerabilidades distintas em Campos e Macaé.

Outro aspecto destacado por Serra que se deve considerar diz respeito às iminentes mudanças nas normas de distribuição dos recursos dos royalties, previstas na emenda do Deputado Federal Ibsen Pinheiro, que diminui gradativa e drasticamente, no limite, o percentual que hoje cabe aos municípios produtores, onde se enquadram os dois municípios aqui abordados. A presidenta da República vetou a emenda, os congressistas derrubaram o veto presidencial, e os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo ajuizaram Ação de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, que suspendeu a aplicação da Emenda, mas que ainda não foi julgada pelo STF. Com certeza haverá uma profunda crise nesses municípios, uma vez que suas despesas são dimensionadas para o atual patamar orçamentário, ante a ausência de planejamento e de investimentos produtivos.


III. Emprego formal em Campos dos Goytacazes e Macaé

                        Quando se analisa a dinâmica do emprego nos dois municípios analisados, ficam mais evidentes as assimetrias nos impactos socioeconômicos, resultando em duas realidades bastante contrastantes. A herança de um mercado de trabalho precário, informal, ou “clandestino”, em Campos, dominado numericamente pelo trabalho no corte de cana, com uma força de trabalho predominantemente de baixa qualificação, em contraste com o novo mercado de trabalho gerado pelas atividades petrolíferas em Macaé, onde estão as empresas do Complexo, concentrou um volume de trabalhadores formalizados e com salários médios bem superiores em Macaé.


Tabela 5. Trabalho Formal e Salário Médio em Campos e Macaé, 2012
Indicadores
Campos dos Goytacazes
Macaé
Pessoal Ocupado Assalariado
91.727 Pessoas
142.551 Pessoas
Pessoal Ocupado total
105.533 Pessoas
150.068 Pessoas
Salário Médio Mensal
2,3 salários mínimos
7,5 salários mínimos
       Fonte: IBGE- Cadastro Central de Empresa, 2012. Campos

                        Aqui aparecem, com mais nitidez, as disparidades na conformação da economia dos dois municípios. Com menos da metade da população e menos de um terço da área, e bem menos rendas, Macaé possui um mercado de trabalho assalariado maior do que o de Campos, e com 40% a mais de assalariados formais. Embora o PIB de Campos seja o triplo, seu mercado de trabalho é inferior ao de Macaé, asism como o nível de formalização dos vínculos. Aí reside o principal aspecto que se quer destacar quanto aos impactos territoriais da economia regional do petróleo, tomando como exemplo os dois municípios mais dinâmicos, economicamente, do NF.

  O mercado de trabalho de Macaé configura-se como um mercado empresarial vinculado a um segmento de alta competitividade, dada a sua inserção internacional, o que reflete, além do elevado grau de formalização, nos níveis salariais, dadas às exigências de qualificação. A média salarial em Macaé é mais do que o triplo da de Campos. É óbvio que Campos ganha com o mercado de trabalho do vizinho, uma vez que grande parte dessa força de trabalho de Macaé é de trabalhadores residentes em Campos, pois os dados referem-se ao local das empresas declarantes. O que se quer enfatizar é a diferença entre as estruturas e dinâmicas econômicas dos dois municípios que polarizam a economia regional. Macaé possui uma economia empresarial. Campos ainda patina numa economia de rendas.

                        A análise do saldo anual do emprego nos dois municípios confirma que as duas economias são dinâmicas, com crescente geração anual de trabalho, mesmo com os percalços de 2007, 2009 e 2012 em Campos, e de 2009, em Macaé, conforme as tabelas 7 e 8.
Tabela 6. Saldo do emprego formal, em unidades de trabalhadores. Campos
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
-2.590
1.989
-183
3.239
3.508
-370
2.782
Fonte: MTE, in: RIBEIRO, 2014



Tabela 8. Saldo do emprego formal, em unidade de trabalhadores. Macaé
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
6.796
10.013
-87
7.807
11.507
5.142
3.965
         Fonte: MTE, in: RIBEIRO, 2014

Pontuar-se-á, aqui, os setores objeto da destruição de empregos, conforme expressão cunhada por Ribeiro (2014:99). Em Campos, nos anos de 2007, 2009 e 2012, os saldos foram negativos, tendo sido destruídos 2.590, 183 e 370 empregos, respectivamente. Os setores responsáveis por tais eventos nos aludidos exercicios foram, segundo Ribeiro (2014:99)

“Em 2007, não houve criação de empregos; ao contrário, houve destruição de empregos, onde o setor de serviços foi o setor que mais desligou pessoal, seguido pelo setor agropecuário.
Em 2009 foi verificado, mais uma vez, o fenômeno da destruição de empregos, onde o setor agropecuário contribui efetivamente para o processo, seguido pela construção civil.  
Em 2012, o municipio destruiu empregos, consequência do forte processo de demissões da construção civil, que gerou um saldo negativo de 1863 empregos, com reflexos no comércio, que gerou um saldo negativo de 236 empregos”.

O município de Macaé, no período de 2007 a 2013, apresentou um saldo de emprego constante, com ligeiro desvio em 2009, quando se aferiu uma queda, com o saldo negativo de 87 empregos, muito provavelmente devido ao impacto da crise financeira americana. O elevado saldo do emprego ao longo do período acima, deixa claro que a dinâmica da economia local constitui-se significativa e sustentável, enquanto a economia do petróleo for forte, tendo em vista que em Macaé encontra-se instalada a base da indústria extrativa, com perspectivas de aumento da produção, com a entrada de novas grandes empresas, após a Lei do Petróleo, de 1997, e com a exploração da camada do Pré-Sal.

 O setor de serviços demonstra intensa pujança na geração de emprego e renda ao longo do período, com o domínio das empresas prestadoras de serviços ao Complexo de E&P naquela cidade, cujo volume de negócios e salários impacta, também, o comércio.

Conforme afirma Ribeiro (2014, :109), com relação a Macaé

“Em 2007 foram geradas 6.796 novas vagas de emprego, concentrados em 73,81% no setor de serviços e 15,99% na indústria de transformação. Em 2008, verificou-se uma melhor distribuição setorial do emprego. O setor de serviços presentou uma contribuição proporcional de 27,91% a indústria da transformação 10,41%, a construção civil 39,49% e o comércio 12, 46%. Em 2009, o resultado negativo foi pressionado pelo elevado desemprego no setor da construção civil, que destruiu 3.246 vagas de trabalho no ano. No ano de 2010 verificou-se a recuperação do emprego, com a criação de 7.807 novas vagas. Destas, o setor e serviços participou com 82% e o comércio com 11,57%. Em 2011, o setor de serviços voltou a concentrar a geração de emprego, com uma taxa de 61,10%, seguido pelo setor da construção civil, com 14,90%, e da indústria de transformação, com 13,46%. Em 2012, o emprego, em processo de desaceleração, concentrou 53,71% na construção civil e 28,59% no setor de serviços. Em 2013, o saldo em queda foi empurrado pela indústria de transformação, que destruiu 2.048 vagas, ao mesmo tempo em que o setor de construção civil que criou 6.226 vagas no ano. (Ribeiro, 2014:108)    

Mais uma vez se confirma que o setor de serviços de Macaé agregou valor ao PIB na mesma proporção do setor industrial, ao contrário de Campos, onde o PIB industrial advém das rendas petrolíferas, e no qual o valor agregado pelos serviços é bem inferior ao de Macaé, tendo por referência o ano de 2011.

A análise da evolução da renda média do trabalho nos dois municípios reforça a percepção do predomínio de dois perfis distintos de especialização do mercado de trabalho. Embora o valor médio tenha diminuído, no período analisado, entre 2004 e 2012, nos dois municípios, o patamar do valor médio dos salários em Campos mantém-se em um terço do de Macaé, indicando a manutenção de um mercado de trabalho de baixa qualificação, de base empresarial com grau maior de informalidade – conforme os dados do trabalho formal revelaram – e em atividades de nível tecnológico inferior ao de Macaé.

Tais dados apontam para o fato de que, até o momento, só Macaé tem ganhos importantes na dimensão e na qualidade do mercado de trabalho, com a economia do petróleo. O mercado de trabalho de Campos vem resistindo à contaminação do perfil empresarial moderno do mercado de Macaé, típico da economia do petróleo, a despeito da cidade possuir uma importante e completa rede de unidades de qualificação de mão-de-obra.

Tabela 9. Renda Média do Trabalho em Campos dos Goytacazes (salários mínimos)
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
3
2,73
2,62
2,47
2,51
2,58
2,59
2,43
2,56
Fonte (Ribeiro,2014, palestra no dia 07/05/214 no FUNDECAM)


Tabela 10. Renda Média do Trabalho em Macaé (salários mínimos)
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
9,7
9,06
8,35
8,41
8,54
8,5
7,71
7,16
8,01
Fonte: (Ribeiro, 2014, palestra no dia 07/05/2014 FUNDECAM)


A aparente tendência ao rebaixamento dos valores médios dos salários, nos dois municípios, pode ser atribuído, dentre outros fatores, à crescente terceirização do emprego no setor petrolífero, o que tem levado ao aumento da precarização e à diminuição dos salários médios. No entanto, o fenômeno merece investigação mais profunda e detalhada.

IV. Considerações finais

                        Mesmo considerando-se as tendência à especialização, polarização e concentração inerentes à dinâmica econômica, mais acentuadamente no caso de uma atividade extrativa, como a da economia petrolífera do NF, sem internalização regional de qualquer segmento, a montante e a jusante, da cadeia de beneficiamento, este breve trabalho buscou destacar algumas evidências desse fenômeno e as distorções socioespaciais que ele gera, utilizando-se da análise da composição do PIB e de alguns aspectos do mercado de trabalho, dos dois municípios-polo regionais, Campos e Macaé. Não se trata de uma análise comparativa, uma vez que não há equivalência de base territorial e demográfica, além das diferenças nas trajetórias e nos papéis representados historicamente na economia regional. Trata-se de buscar indicadores das diferenciações, assimetrias e desigualdades na conformação das economias municipais afetadas pelo perfil da economia regional do petróleo.

                        A análise dos dados demonstrou que a maior economia regional, Campos dos Goytacazes, em termos absolutos, possui maiores fragilidades do que a do município-sede do Complexo de E&P, Macaé, pela sua composição dominantemente rentista e tradicional, em contraste com o peso da economia produtiva e moderna, deste último.

                        Ambos, no entanto, possuem vulnerabilidades decorrentes, não só da restrição extrativista do Complexo, quanto da sua sensibilidade à volatilidade do comércio internacional de petróleo, por um lado; e, por outro, da perspectiva de redução drástica na nas rendas, ante a ameaça da Emenda Ibson. Macaé, no entanto, ao sediar empresas do Complexo, possui, aparentemente, mais recursos, em estrutura industrial e de serviços de alta tecnologia, a lançar mão, para compensar futuras perdas de royalties e de participações especiais.

                        O problema remete ao desafio de romper com o monopólio da economia petrolífera sobre os recursos territoriais regionais e de construir uma economia diversificada e bem distribuída espacialmente, o que requer planejamento e articulação de escalas de governo supra-locais nesse processo.

IX- Referências Bibliográficas:

CRUZ, J. L. V. (2003). Projetos nacionais, elites locais e regionalismo: desenvolvimento e dinâmica territorial no Norte Fluminense entre 1970 e 2000. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: IPPUR/UFRJ, 340p.

Jornal Folha de São Paulo, Caderno Mercado B1, Obstáculos travam Porto de Eike no Rio, reportagem da Jornalista Denise Luna, 26/02/2012. Disponível em: www.portodesantos.com.br/clipping.  

Jornal Terceira Via- Campos dos Goytacazes-RJ- reportagem Jaime Lerner e o poder público apresentam nova SJB  à população em 12/03/2013. Disponível em : www.jornalterceiravia.com.br/notícias/campos _ dos goytacazes_/jaime_lerner.

RIBEIRO, Alcimar das Chagas. Palestra no Fundo de Desenvolvimento de Campos-FUNDECAM, 07/05/2014.

PIQUET, Rosélia; SERRA, Rodrigo. Petróleo e Região no Brasil. Riode Janeiro: Editora Garamond, 2007.   

PIQUET, Rosélia; CRUZ, J. L. V; VILANI, Machado Rodrigo (Orgs). O desafio da abundância, 10 anos do Boletim Petróleo, Royalties e Região. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2013.

RIBEIRO, Alcimar das Chagas. A Economia do Norte Fluminense, análise e perspectiva. Campos dos Goytacazes: Editora Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, 3ª Edição, 2014.

SERRA, Rodrigo. Sobre o advento dos municípios “novos ricos” nas regiões petrolíferas nacionais. In: PESSANHA, Roberto Moraes; Silva, Neto e Romeu, Orgs.; Economia e Desenvolvimento no Norte Fluminense ( da cana-de-açúcar aos royalties do petróleo); Editora WTC, 2004, p. 174.

TCE-RJ. Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Estudos socioeconômicos. Rio de Janeiro: http://www.tce.rj.gov.br/70


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